01
A partida
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1 | Acordei pela madrugada. A princípio com |
tranquilidade, e logo com obstinação, quis novamente | |
dormir. Inútil, o sono esgotara-se. Com precaução, | |
4 | acendi um fósforo: passava das três. Restava-me, |
portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria | |
às cinco. Veio-me então o desejo de não passar mais | |
7 | nem uma hora naquela casa. Partir, sem dizer nada, |
deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e de | |
amor. | |
10 | Com receio de fazer barulho, dirigi-me à |
cozinha, lavei o rosto, os dentes, penteei-me e, | |
voltando ao meu quarto, vesti-me. Calcei os sapatos, | |
13 | sentei-me um instante à beira da cama. Minha avó |
continuava dormindo. Deveria fugir ou falar com ela? | |
Ora, algumas palavras... Que me custava acordá-la, | |
16 | dizer-lhe adeus? |
LINS, O. A partida. Melhores contos. Seleção e prefácio de
Sandra Nitrini. São Paulo: Global, 2003.
No texto, o personagem narrador, na iminência da partida, descreve a sua hesitação em separar-se da avó. Esse sentimento contraditório fica claramente expresso no trecho: