Estou orgulhoso, sim, por sentir o caráter de Epicuro como ninguém talvez o sente, e apreciar, em tudo que aprendo a seu respeito, em tudo que leio dele, a felicidade de uma tarde da Antiguidade... vejo seu olhar desdobrando-se sobre vastos mares esbranquiçados, para muito além das falésias onde repousa o sol, enquanto animais de todos os tamanhos vêm brincar à sua luz, tranquilos e seguros como esta luz e este mesmo olhar. Semelhante felicidade só pode ter sido inventada por alguém que sofria sem descanso; é a felicidade que viu sossegar sob o seu olhar o mar da existência, e que de ora em diante não se farta de ver esta superfície ondulante, esta pele delicada e fremente do mar; nunca houve semelhante modéstia na voluptuosidade.
(NIETZSCHE, F. A Gaia Ciência. São Paulo: Martin Claret, 2010. p. 65).
Epicuro cresceu numa época em que a filosofia da Antiga Grécia já tinha alcançado o auge com as ideias de Platão e Aristóteles. Nesse texto, Nietzsche apresenta a felicidade em Epicuro como algo alcançado a partir