Leia o texto a seguir.
O baile das flores
— Hoje vou ao baile das flores — anunciou o repolho.
— Ao baile das flores? — sussurrou a cebola, horrorizada.
— Tu ficas bem entre iguais — disse a alface.
— O teu lugar é aqui e tudo mantém a sua devida ordem.
O pepino anuiu sabiamente com a cabeça.
— Acautelai-vos com as flores do jardim do outro lado da cerca — continuou a alface. — Andam de nariz levantado e olham-nos de cima para baixo. Não passam de ervas sentadas em vasos!
— Não queremos ter nada a ver com elas — disseram as ervilhas. — Aquelas perfumadas da horta não passam de umas campainhas de enfeite…
— Eu não tenho nada contra as flores. Só têm um aspecto diferente do nosso e às vezes não cheiram tão bem como nós — disse a cenoura pensativa. — Sabes que mais? Também vou contigo — decidiu, com um estremecimento da raiz à ponta das folhas.
O repolho limpou as folhas e enfeitou-se com uma peninha. A cenoura encontrou uma linda máscara para si.
— Mas que bonitos que vocês estão! — elogiaram os rabanetes e, de repente, deixaram de ter caras coradas e alegres.
O repolho empertigou-se e ofereceu à cenoura um braço forte.
Ela acenou com a cabeça, animada, e, de pé leve, deixaram a horta.
No baile, a animação já tinha começado. [...] Repolho e cenoura passeavam pelo baile e iam cumprimentando à direita e à esquerda.
— Quem são estes? — cochichava um cravo a uma tulipa mais velha.
Esta olhou por cima dos óculos e torceu o nariz.
— Legumes, diria eu…
— Mas que horror! — exclamou o cravo. — Legumes crus no nosso baile. Que indecência!
— Mas o que é que eles têm de vir aqui fazer? Foram ao menos convidados? — queria saber uma rosa.
O repolho ouvia o falatório e os cochichos, e reparara como as rosas se encolhiam, os cravos tremiam de indignação e como um amor-perfeito tivera até um ataque de soluços.
— Parece que eles não gostam de nós — disse à cenoura.
[...]
— Fizemos-lhes algum mal? — perguntou ao repolho.
— Não. Eles nos fizeram algum mal? - perguntou ele.
— Não - respondeu a cenoura.
— Então pronto, ninguém tem razões para estar zangado.
[...]
Misturaram-se com os bailarinos. O repolho tinha agarrado a cenoura pela cintura e dançavam uma animada rumba-feijoca. Os dois formavam um par bonito de se ver e as flores aplaudiram, a contragosto.
Depois de ver isto, o lírio ousou por fim dirigir-se à cenoura e o repolho convidou uma margarida para dançar. Tocou-se uma valsa encantadora.
Foi uma bela noite. Todos puderam conversar, se conhecer e se cheirar.
[...]
Os dois entraram em casa em bicos de pés. Estavam felizes, muito cansados e não queriam acordar ninguém.
Texto adaptado de: Der Blumenball. Disponível em <https://contadoresdestorias.
wordpress.com/2009/06/04/o-baile-das-flores-2/> Acesso em: 5 ago. 2016.
anuir: concordar.
acautelar-se: cuidar.
empertigar-se: erguer, aprumar.
indignação: revolta, descontentamento.
rumba: uma dança cubana.
Com base no texto "Hoje vou ao baile das flores", assinale a alternativa correta sobre o comportamento das flores em relação aos legumes no baile: