Na tarde de 5 de novembro de 2015, uma barragem de rejeitos de mineração de ferro rompeu no município de Mariana, Minas Gerais, despejando cerca de sessenta milhões de metros cúbicos de lama e metais pesados em seiscentos e sessenta e três quilômetros de extensão do rio Doce, que deságua no oceano Atlântico. O volume de lama divulgado é contestado pela empresa responsável, assim como a toxidade do material. Registram-se índices de chumbo, arsênio e manganês acima de níveis seguros para o ecossistema. De acordo com o Ministério Público de Minas Gerais, condicionantes do licenciamento ambiental da barragem estavam sendo desrespeitadas, sem que houvesse a devida fiscalização, o que incluía um plano de emergência que poderia ter evitado a morte de dezessete pessoas e a total destruição do vilarejo de Bento Rodrigues. O território dos indígenas krenak, no vale do rio Doce, é totalmente destruído pela contaminação da lama. Não há mais possibilidade de pesca, plantio ou criação de animais. Sagrado para os Krenak, o rio é a entidade Watú – avô – por sua importância, grandiosidade e pelo respeito que emana. Hoje uma cerca separa as pessoas da margem intoxicada e infértil. Os rios somos nós todos, seres de água. Cada criança que nasce é uma nascente.
REBOUÇAS, Júlia. Arte porque sim. VOLZ, J.; REBOUÇAS, J. (Org.) 32ª Bienal de São Paulo: Incerteza Viva: Catálogo. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2016.
A importância do rio Doce para a população ribeirinha é inquestionável, tanto para a subsistência quanto para o desenvolvimento da economia local. Essa importância ganha um contorno transcendental na medida em que