A maior utilidade do Grêmio para mim era a biblioteca. Uma coleção de quinhentos a seiscentos volumes de variado texto, zelados pela vigilância cerberesca do Bento Alves, bibliotecário, eleito de voto unânime. Alves era da associação como quase todos os alunos do curso superior. Filiava-se ao grupo simpático dos silenciosos, usufruindo os lucros da circunstância de não ser do regimento a taramela obrigatória. Fora da biblioteca, os seus serviços aos intuitos do Grêmio resumiam-se no apoiado! consciencioso e firme, à disposição sempre da melhor ideia em questões elevadas, e do mais sábio alvitre em questões de ordem. Alguns rapazes, não do Grêmio, e que não houvessem, nas letras, manifestado gramaticalmente notável jeito para a conjugação sub-reptícia do verbo adquirir, podiam obter do presidente o direito de ingresso na sala dos livros. Eu, como amigo que era das bonitas páginas impressas, apresentei candidatura. E como não divertia bastante o jogo da barra ao sol, nem o rapa-tira-deixa-põe das penas de aço e das carrapetas, nem o correr à panelinha das bolas de vidro espiraladas de cores, fez-se-me a biblioteca a recreação habitual.
POMPÉIA, R. O Ateneu. São Paulo: Martin Claret, 2013.
Um dos romances mais aclamados de Raul Pompeia é “O Ateneu”, publicado em 1888, cujo narrador encontra no colégio a diversidade dos tipos sociais. A personagem Bento Alves, o bibliotecário apresentado no fragmento do romance, representa a caricatura dos