A cena parece saída de um filme de ficção: um garoto está andando de bicicleta na calçada quando a voz de uma autoridade invisível surge do nada. “O rapaz de camiseta preta na bicicleta poderia, por favor, desmontar?”, diz a voz, em um tom educado, mas resoluto. Surpreso, o garoto procura o lugar de onde vem o comando — um alto-falante acoplado a uma câmera, no alto de um poste — e obedece, enquanto as pessoas na calçada o observam, algumas rindo, outras espantadas.
Se a história parece incrível, “você ainda não ouviu nada”, como avisa o slogan da prefeitura de Middlesbrough, na Inglaterra, sobre a novidade da cidade no combate à desordem social: câmeras de vigilância com sistema de som.
A prefeitura não esconde o princípio por trás do novo método: envergonhar o infrator.
O exemplo gerou críticas de sociólogos e organizações de defesa das liberdades civis. “A humilhação pública não é a melhor forma de controle social”, disse o professor Clive Norris, da Universidade de Sheffield. Morris diz que o Reino Unido está passando de uma sociedade de informação para uma de vigilância.
O que deixa os críticos atordoados é a aceitação da população. Uma pesquisa mostrou que 72% da população não vê as medidas como invasivas. O escritor Henry Porter cita Benjamin Franklin, para mostrar sua aversão a tal aprovação: “Aqueles que aceitam ceder liberdades essenciais em troca de segurança temporária não merecem nem segurança nem liberdade.”
Folha de S. Paulo, 22 out. 2006. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 15 mar. 2021 (adaptado).
As novidades tendem a dividir opiniões. No texto, essas opiniões são expostas com base em um acontecimento narrado na introdução e é possível afirmar que