Explicaê

01

Sonetilho do falso Fernando Pessoa

Onde nasci, morri.

Onde morri, existo.

E das peles que visto

muitas há que não vi.


Sem mim como sem ti

posso durar. Desisto

de tudo quanto é misto

e que odiei ou senti.


Nem Fausto nem Mefisto,

à deusa que se ri

deste nosso oaristo*,


eis‐me a dizer: assisto

além, nenhum, aqui,

mas não sou eu, nem isto.

Carlos Drummond de Andrade. Claro Enigma.


Ulisses

O mito é o nada que é tudo.

O mesmo sol que abre os céus

É um mito brilhante e mudo ‐

O corpo morto de Deus,

Vivo e desnudo.


Este, que aqui aportou,

Foi por não ser existindo.

Sem existir nos bastou.

Por não ter vindo foi vindo

E nos criou.


Assim a lenda se escorre

A entrar na realidade,

E a fecundá‐la decorre.

Em baixo, a vida, metade

De nada, morre.

Fernando Pessoa. Mensagem.

*conversa íntima entre casais.


 (FUVEST 2019 1° FASE) Considerando os poemas, assinale a alternativa correta.

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