Meu pai disse que meu avô contou que minha avó era muito linda e que olhou bem nos seus olhos antes de correr. Meu avô ficou enfeitiçado por ela. Imediatamente ele tirou o laço do lombo do cavalo em que estava montado e a laçou. Ela, no começo, esperneou, gritou, chamou pelos outros ‘índios’, mas ninguém voltou, e meu avô a levou para casa e com ela teve nove filhos. Meu avô contou para meu pai que vovó era baixinha, tinha cabelos longos bem pretinhos e olhos puxadinhos. Ela ficava horas sentada na frente de casa penteando os cabelos e com os olhos perdidos no horizonte. Meu avô dizia que ela ficou a vida inteira aguardando que sua ‘tribo’ viesse resgatá-la. Nunca ninguém apareceu.
Disponível em:http://danielmunduruku.blogspot.com.Acesso em: 1º fev. 2020 (adaptado).
O texto traz a memória contemporânea de um dos netos de mulheres indígenas que foram “pegas no laço”, prática recorrente desde o período colonial até o início do século XX. No processo de formação do povo brasileiro, o caso mencionado é emblemático porque evidencia a