MEDEIA - (de dentro) Ai! Desgraçada de mim e dos meu males. Ai, ai de mim, que fim será o meu?
AMA - Vedes, caros filhos; a vossa mãe o peito se lhe agita e move a ira. Correi depressa para dentro do palácio, e não vos acerqueis da sua vista, nem vos aproximeis, mas defendei-vos do caráter selvagem, temeroso de um ânimo indomável. Ide, então, correi céleres para dentro. (Os filhos de Medeia entram no palácio.) É bem claro, em breve com maior paixão inflamará a nuvem de gemidos que começa a surgir; e que fará, tão malferida, e inaplacável uma alma mordida pela desgraça?
MEDEIA - Ai! Ai! Sofri, desgraçada, sofri males muito para lamentar.Ó filhos malditos de mãe odiosa, perecei com vosso pai, e a casa caia toda em ruínas. Ama Ai ai de mim, desgraçada! Por que entram as crianças na culpa que é do pai? por que os odeias? Ai, filhos, como eu temo que algo sofrais. Duro é dos soberanos o querer e, pouco mandados, podendo muito, dificilmente mudam suas iras. Melhor é o costume de viver na igualdade; a mim me seja dada velhice tranquila e sem grandezas. Da moderação, vale nome mais que tudo. Dela usar é bem melhor para os mortais; aos homens de nada serve passar tal medida. Maior a pena da desgraça que sofrem, quando em fúria o demônio anda em casa.
(Eurípedes)
Quanto ao gênero textual, Medeia de Eurípedes é um texto dramático. Como provoca, no público, a catarse (forma de purificação e/ou purgação dos sentimentos), Medeia preenche os requisitos de um(a)