Houve um tempo em que falar de índios no Brasil era um exercício romântico. Tão romântico quanto fantasioso.
[...] De romantismo em romantismo, chegamos aos anos 1980, em que os índios, eternos candidatos a nobres selvagens, passam a ser agora heróis ecológicos. [...] No entanto, transformar os índios em heróis da “nossa” natureza, incorporados como parte daquele objeto à parte, e igualmente alheio a nós, pode não ser mais que uma dessas nossas projeções, tão românticas quanto utilitárias, de ver Peri beijar Ceci… e morrer em seguida. Parará tim bum bum bum.
Se o novo romantismo ecológico ao menos chamou os índios para a agenda enquanto eles ainda estão vivos, sua tônica acanhadamente preservacionista os fez equivaler, mais uma vez, ao passado; a um passado de aparente pureza florística e faunística que precisaria ser sempre revivido ― ou “resgatado”, como gosta de usar a terminologia patrimonializadora em voga ― de forma idealmente imutável. Mais uma vez, os índios parecem entrar na (nossa) dança sob a clave do embalsamamento, mesmo que, agora, sob a agenda de uma patrimonialização talvez tão fetichista quanto a toponímia mítica dos velhos eruditos paulistas. [...]
CAVALCANTI-SCHIEL, Ricardo. Saberes indígenas, muito além do romantismo. Carta Capital. 14 maio 2015. Disponível em:
O autor do artigo lança um olhar crítico em relação ao restrito lugar atribuído aos indígenas, propondo um distanciamento dos ideais românticos a fim de compor uma interpretação factual da cultura desses povos e de seus papéis na sociedade. A referência à estética do romantismo, nesse texto, justifica-se pela contraposição