TEXTO I
A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir, nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto. [...] Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros, de comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita como roque de xadrez, ali encaixado de tal sorte que não os molesta, nem os estorva no falar, no comer ou no beber.
Carta ao Rei D. Manuel, de Pero Vaz de Caminha.
TEXTO II
O que usam os homens como ornato, como se pintam e que nomes têm ?
Fazem uma tonsura no alto da cabeça e deixam ficar em torno uma coroa de pelos, como um monge. [...] Além disso fabricam para si um enfeite de penas vermelhas, que se chama acangatara e que amarram à cabeça. No lábio inferior têm um grande orifício, e isso desde a infância. Fazem nos meninos, com um pedaço de chifre de veado, um pequeno furo através dos lábios. Aí metem uma pedrinha ou um pedacinho de madeira e untam-no com seus unguentos. O pequeno buraco permanece então aberto.
Viagem ao Brasil, de Hans Staden.
Os textos I e II constituem exemplos emblemáticos da chamada literatura de viagem do Quinhentismo. Com base na leitura dos fragmentos e levando-se em consideração os propósitos da literatura de viagem, infere-se que os textos de Caminha e Staden: