Lhe explico, com permissão de sua paciência. Chegue‑se mais à luz, não receie o fumo. Nem tenha medo de queimar: não há outra maneira de me escutar. Minha voz se está enfraquecendo, mais débil ficando à medida que eu desfiar estas confidências. Enquanto ouvir estes relatos você se guarde quieto. O silêncio é que fabrica as janelas por onde o mundo se transparenta. Não escreva, deixe esse caderno no chão. Se comporte como água no vidro. Quem é gota sempre pinga, quem é cacimbo se esvapora. Neste asilo, o senhor se aumente de muita orelha. É que nós aqui vivemos muito oralmente. Tudo começa antes do antigamente.
COUTO, Mia. A varanda do frangipani. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
O gênero relato, referido no fragmento, adéqua-se àquilo que está sendo narrado por remeter a