[...] Uma das reações à hiperinformação é o medo de ficar sabendo, essa espécie de ansiedade que se revela na aversão ao spoiler. [...] Uma questão que se pode levantar, entretanto, é o papel da crítica nesse contexto. “Se estamos falando de crítica propriamente dita”, diz [Daniel] Galera, “essa que procura analisar obras de arte e produtos culturais à luz de suas ideias, conceitos, linguagens, formas, ramificações e contextos diversos, o pudor do spoiler tem um custo imenso”. Não lidar com a obra em sua integridade por temor a revelar pormenores do enredo tornaria o debate menos fértil. [...] A crítica não judicativa (isto é, aquela que não se limita a conceder estrelinhas a um trabalho) se propõe a incrementar a bagagem do receptor. Se ele se recusa a entrar nas obras paramentado, a crítica perde sua relevância, alimentando um ciclo vicioso que terminaria na nudez total. Um final pouco feliz.
A questão, enfim, parece estar relacionada ao conhecimento. Saber é mais fértil do que não saber, porque o conhecimento se alimenta de si próprio para se alastrar. E, no fim das contas, a arte que interessa, como diz Klumb, é aquela “que tenta ser fiel a uma imensa carga de aleatoriedade da vida”. Essa aleatoriedade da vida não é uma surpresa, mas é o nosso espanto maior.
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Ao refletir sobre o medo do spoiler (revelações sobre o enredo de alguma obra) na contemporaneidade e o papel da crítica de arte nesse contexto, o texto evidencia que o(a)