Cada geração, cada cultura e cada país relê, reescreve e retraduz a seu modo as obras de arte que encara como clássicas — e que adquirem tal status justamente por sua capacidade de superarem as circunstâncias locais e temporais, e serem reapropriadas e reinterpretadas em contextos e épocas distantes daqueles em que foram produzidas. Sim, só há um Guerra e paz, como só há um Édipo rei, de Sófocles, ou só uma Nona sinfonia, de Beethoven. Porém, o número de interpretações dessas obras tende ao infinito. Uma nova tradução traz as marcas de sua época, com escolhas que refletem o modo de pensar, as preferências, prioridades e preocupações de quando e onde foi feita. Não se trata da obra em si, mas uma de suas inúmeras leituras possíveis. [...] Acho que o tradutor é como um árbitro de futebol: quanto melhor atua, menos se faz notar. Não existe tradução fácil, mas isso não é motivo para dificultar a tarefa do leitor. Pelo contrário: idealmente, o leitor nem deveria se dar conta de que há um intermediário entre ele e o autor, com o qual deveria se comunicar de forma direta.
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Segundo aos argumentos apresentados e discutidos no texto, ao traduzir ou retraduzir uma obra literária, a função do tradutor é