TEXTO I
Rachel de Queiroz estreou na literatura com apenas 20 anos. Seu romance O quinze retrata o drama da seca e dos retirantes de forma pessoal e intensa. Ela viveu a experiência da seca, o que lhe serviu de base para retratar o drama dos nordestinos. Suas obras iniciais tematizam a seca, o coronelismo e a miséria humana, sem perder o traço psicológico do indivíduo da terra, que, diante da fatalidade existencial, acaba se conformando com sua situação e sua condição de pobreza.
Disponível em: www.https://maestro.plurall.net. Acesso em: 23 fev. 2021.
TEXTO II
Na primeira noite, arrancharam-se numa tapera que apareceu junto da estrada, como um pouso que uma alma caridosa houvesse armado ali para os retirantes. O vaqueiro foi aos alforjes e veio com uma manta de carne de bode, seca, e um saco cheio de farinha, com quartos de rapadura dentro. Já as mulheres tinham improvisado uma trempe e acendiam o fogo. E a carne foi assada sobre as brasas, chiando e estalando o sal. Pondo na boca o primeiro pedaço, Chico Bento cuspiu:
– Ih! sal puro! Mesmo que pia!
Mocinha explicou:
– Não tinha água mode lavar…
Sem se importarem com o sal, os meninos metiam as mãos na farinha, rasgavam lascas de carne, que engoliam, lambendo os dedos.
Cordulina pediu:
– Chico, vê se tu arranja uma aguinha pro café…
Apesar da fadiga do longo dia de mancha, Chico Bento levantou-se e saiu; a garganta seca e ardente, parecendo ter fogo dentro, também lhe pedia água.
Os meninos, passado o furor do apetite, exigiam com força o que beber; gemiam, pigarreavam, engoliam mais farinha, ou lambiam algum naco de rapadura, entretendo com o doce a garganta sedenta. […]
QUEIROZ, R de. O quinze. São Paulo: José Olympio, 2012.
A rotina dos retirantes, fugidos da seca, é o cenário em que Rachel de Queiroz expõe a condição humana. O “conformar-se com a situação” evidenciado no Texto I encontra exemplificação no Texto II ao se apresentar