Quando chove, é fogo, viu! Quando o céu fica preto daquele jeito, todo mundo aqui em casa vai ficando preocupado. A gente pensa que a casa da gente é um lugar seguro e tudo, mas o problema aqui é a chuva. Começa a chover e a gente corre para olhar na janela. A água vem vindo assim como quem não quer nada... sobe na calçada... vem mais um pouquinho... aí chega no portão e depois, com os carros que vão passando na rua e fazendo onda, mais a chuva que não para, logo ela entra por baixo da porta da sala. Aí, é fogo! A gente sai correndo, pegando tudo que pode molhar, que nem blusa e travesseiro, e vai pondo em cima do guarda-roupa e até amarrando no teto! Chegar lá no teto, que nem naquelas casas afogadas que se vê na televisão, aqui em casa nunca aconteceu. Não sei se isso é uma sorte... Uma coisa bem ruim não é menos ruim porque tem coisa pior, não é? Eu gosto de brincar na chuva. Mas o problema que eu descobri é que o legal de brincar na chuva é quando a gente tem um lugar seco pra ficar depois. E isso não tem aqui, não. BONASSI, Fernand o. Vida da gente. Belo Horizonte: Editora Formato, 1997. p. 56.
A crônica transita entre o universo literário e o jornalístico porque, antes de ser compilada em um livro, ela é, originalmente, veiculada em jornais, revistas ou sites da internet. Esse gênero textual compõe-se de características típicas que o distinguem dos demais representantes da tipologia narrativa. Nesse sentido, o texto anterior pode ser classificado como crônica porque