(UDESC) Capítulo II
Como os homens daquela terra principiaram a tratar conosco, das suas casas e de alguns peixes que ali há, muito diversos dos nossos.
Naquele mesmo dia, que era no oitavário da Páscoa, a 26 de abril, determinou o capitão-mor de ouvir missa, e assim mandou armar uma tenda naquela praia, e debaixo dela um altar, e toda a gente da armada assistiu tanto à missa como à pregação, 1juntamente com muitos dos naturais, que bailavam e tangiam nos seus instrumentos; logo que se acabou, voltamos aos navios, e aqueles homens entravam no mar até aos peitos, cantando e fazendo muitas festas e folias. Depois de jantar tornou a terra o capitão-mor, e a gente da armada para espairecer com eles, e achamos neste lugar um rio de água doce. Pela volta da tarde tornamos às naus e no dia seguinte determinou-se fazer aguada e tomar lenhas, 2pelo que fomos todos a terra e os naturais vieram conosco para ajudar-nos. 3Alguns dos nossos caminharam até uma povoação onde eles habitavam, coisa de três milhas distante do mar, 4e trouxeram de lá papagaios e uma raiz chamada inhame, que é o pão de ali que usam, e algum arroz, dando-lhe os da armada cascáveis e folhas de papel em troca do que recebiam. Estivemos neste lugar cinco ou seis dias; 5os homens, como já dissemos, são baços, e andam nus sem vergonha, têm os seus cabelos grandes e a barba pelada; as pálpebras e sobrancelhas são pintadas de branco, negro, azul ou vermelho; trazem o beiço de baixo furado e 6metem-lhe um osso grande como um prego; outros trazem uma pedra azul ou verde e assobiam pelos ditos buracos; as mulheres andam igualmente nuas, são bem feitas de corpo e trazem os cabelos compridos. As suas casas são de madeira, cobertas de folhas e ramos de árvores, com muitas colunas de pau pelo meio e entre elas e as paredes pregam redes de algodão, nas quais pode estar um homem, e de [baixo] cada uma destas redes fazem um fogo, de modo que numa só casa pode haver quarenta ou cinqüenta leitos armados a modo de teares.
OLIVIERI, Antonio Carlos e VILLA, Marco Antonio. Cronistas do descobrimento. São Paulo: Editora Ática, 1999, pp. 30 e 31.
Analise as proposições em relação à obra Cronistas do descobrimento, Olivieri, Antonio Carlos e Villa, Marco Antonio e ao texto.
I. Da leitura do texto, infere-se que havia, a princípio, contato amistoso entre os homens da nau de Pedro Álvares Cabral e os índios que aqui residiam.
II. No período “Como os homens daquela terra principiaram a tratar conosco” se a preposição destacada for substituída por de a regência do verbo permanece de acordo com língua padrão.
III. É a partir dos textos literários que remontam o século XVI que a corrente modernista vai se apoiar para propor uma nova ideia de nacionalismo – uma releitura dos moldes da Literatura de Informação em relação ao nacionalismo.
IV. A leitura da obra leva o leitor a inferir que esta não é apenas uma obra que retrata a historiografia do período da Literatura de Informação, mas também traz resquícios de valores estéticos que remontam os textos literários do período medieval.
V. Nas estruturas linguísticas “os homens, como já dissemos, são baços” (referência 5) e “metem-lhe um osso grande como um prego” (referência 6) constata-se que o emprego das estruturas paralelísticas foi na intenção de estabelecer uma comparação, aludindo às características físicas dos nativos.
Assinale a alternativa correta.